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  • Psicólogo Marcelo Garcia de Souza

ANSIEDADE E O MEDO DE RUIR...

Updated: Dec 3, 2020

ANSIEDADES, MEDOS, PÂNICO E O DESAFIO DE SER NO MUNDO!



A ansiedade caracteriza-se por sensações e sentimentos desagradáveis, como também por pensamentos e intuições que trazem algum tipo de sofrimento à quem está passando por este quadro. Neste período, todas as percepções sobre o mundo, sobre si mesmo, e principalmente sobre o futuro, parecem passar por uma lente de pessimismo, fazendo com que a pessoa tenha episódios de medo, angústia, sensações corporais de dores, aceleração cardíaca, respiração difícil, entre outros.


Em resumo, a ansiedade é a resposta do nosso organismo diante de algum evento importante ao qual estamos na iminência de lidar. Fisiologicamente, é ativado o sistema simpático, sistema este que nos prepara para uma fuga ou luta pela sobrevivência. A liberação de hormônios é alta quando estamos nesse quadro (principalmente o hormônio adrenalina).


Caso seja um episódio de alerta com período de duração breve, o sistema parassimpático é acionado e o organismo desacelera e logo volta a homeostase (se equilibra em seu padrão). Caso experimentemos longos períodos nas circunstâncias estressoras, aumentamos inclusive os níveis de corticoide (tipo de hormônio) no organismo, e começamos a sentir efeitos desagradáveis com o passar do tempo, se perpetuando em ciclos viciosos. Aqui entra a questão patológica da ansiedade...


Especificamente nosso sistema nervoso (entre os neurônios), as teorias mais aceitas comprovam alterações, principalmente, nos neurotransmissores “serotonina” e “GABA”, fazendo com que o indivíduo apresente transtornos psicológicos. Outros estudos, aventam a possibilidade de complicações cardiovasculares em decorrência dos transtornos de ansiedade, como hipertensão, taquicardia, entre outros.


Um exemplo de uma reação de ansiedade não patológica pode ser obtida quando de repente nos percebemos caminhando em uma rua e um cachorro muito bravo nos ameaça! Passado o susto, percebendo que o cachorro estava preso, ou que o dono a continha, o corpo começa a voltar ao equilíbrio.


Mas vejamos uma reflexão sobre as ansiedades patológicas; nós humanos temos a capacidade de representação, que, explicando resumidamente, podemos criar conteúdos com a nossa capacidade de linguagem. Pode ser que criemos cenários que nos coloquem a todo o momento em estado de alerta, antevendo sempre possíveis perigos ou ameaças. Isso, somado ao ritmo de vida, a inundações de notícias pessimistas ou tristes que nos chegam pela velocidade da luz, e pela infinitude de possibilidade que estamos expostos, criamos cenários de possibilidades que muitas vezes não são positivos, mas sim, cautelosos e amedrontadores. Na ansiedade, temos principalmente um medo excessivo sobre o futuro.


Vale sempre lembrar que, por vezes ou outra todos passamos por momentos como estes descritos, porém, o que caracteriza um quadro patológico, é a duração e intensidade com que esses sintomas se manifestam. Existe sempre a necessidade de se verificar se há algum estímulo presente e real que esteja provocando este quadro, como se existe uma ameaça contra a vida da pessoa, se existe algum familiar muito doente, ou algum outro estímulo muito marcante, como cenários de guerras, desemprego ou falta de segurança real. Essas exposições são reais e devem ser corrigidas sempre que possível. Porém, além dessas ameaças materiais, existem também as ameaças por nossa própria representação mental, como o medo do desemprego, inseguranças quanto a manutenção de relacionamentos afetivos, preocupação excessiva quanto a julgamento de terceiros, entre outros.


Portanto, a ansiedade é um fenômeno complexo, que se acentua a cada dia na atualidade. Complexo porque envolve tanto estruturas de nossa formação biológica primitiva diante de situações reais, quanto a situações imaginárias cujos efeitos se tornam reais.


Se contarmos inclusive com os fenômenos intrapsíquicos, que são fenômenos muito trabalhados na psicologia analítica, a gama de causas de manifestações extrapolam o conhecido do neurológico e do comportamento diante do mundo externo.


Temos como denominado “Ego” a estrutura psíquica do ser humano responsável por nos situar diante da realidade. Pois bem, quando estamos diante da vida, e algum conteúdo inconsciente começa a se manifestar, é o ego o responsável por intermediar a necessidade de manifestação desses impulsos internos, através da movimentação da energia que vem de nossa mente, em direção ao mundo externo. Também, é o ego que faz com que as exigências dos padrões sociais sejam filtradas e internalizadas em nós (a quem é da área psicológica, sabemos que essa estrutura é mais complexa, mas tomemos como verdade para entendimento geral). Numa figurativa, o ego funciona como um embaixador, um conciliador, do nosso mundo interno com a “realidade externa” (o que apreendemos dela) e vice e versa. É ao ego que cabe o papel da escolha de como se comportar diante dos anseios interno e externo. Porém, diante de tantas exigências do mundo moderno, e de nossas pulsões e manifestações internas da alma (entenda alma como sinônimo de psique), muitas vezes o ego se vê sobrecarregado, e busca de alguma forma “equilibrar” a situação. A dificuldade está na complexidade de fatores como “necessidade de descanso, necessidade de produzir mais no trabalho, lidar com sintomas do cansaço, ter um tempo para si, ter de estudar mais e mais, fazer atividade física, lidar com a falta de tempo em virtude de compromissos sociais, ter tempo para se relacionar com a família, não perder tempo em realizar coisas no mundo, ter de se atualizar em notícias, lidar com o medo que as imagens absorvidas o provocam...” entre muitos outros, vai fazendo com que o ser humano vá “se despersonalizando”. Ao invés de se fortalecer nas escolhas próprias e no que se é verdadeiramente, vai sendo levado a cumprir as exigências externas e acaba se perdendo de si. Muitas vezes, tendendo a uma das duas polaridades, entre o Narcisismo (agindo como um trator que passa por cima de tudo e todos), mas que não entra em contato com suas reais necessidades, também adoecendo (Um tema muito extenso...para outro capítulo...), ou se vê ameaçado e fragilizado em um ego a beira de uma “ruptura”... Geralmente é nesse polo que a ansiedade se insta-la como patologia.


É difícil entender um tema tão complexo como este, de um assunto tão recorrente na atualidade; isto porque envolvem muitos outros temas como, a forma como lidamos e construímos nossa autoestima, nossos aspectos sombrios da psique, o modo como lidamos com nossas polaridades masculino-feminino no psicológico, questões transcendentes de nosso contato com o numinoso (divino), nossa criança interna, nossa maturidade, entre muitos outros temas inerentes a nossa psique, comum a toda a humanidade.


Até atingirmos o contato com nosso “eu verdadeiro”, nosso caminho para sermos o que realmente temos a potencialidade de ser, o ego, essa figura do nosso herói ou heroína internos, teremos que passar por uma grande jornada para conseguir se figurar como um indivíduo único, mesmo diante de todas as ameaças que estão propensas a nos encontrar... Faz parte...


Mas enquanto colocarmos nossa energia apenas em nossa persona, nessa mascara a qual a sociedade espera que desempenhemos apenas os papeis esperados, mais massificados seremos, e mais sem sentido nos sentiremos no mundo. Isso é um dos maiores propulsores de ansiedade na atualidade. Mesmo pessoas que passam por grandes crises, tendo consciência e apropriação sobre o que sejam e o que desejam desempenhar, conseguem levar a vida, mesmo diante de muita dificuldade, com uma paz de espírito inigualável.


Uma obra que me remete a essas reflexões pode ser vista na música de Lenine, “Paciência”, como segue:


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa

A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal

E a loucura finge que isso tudo e normal

Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber

Será que temos esse tempo para perder

E quem quer saber

A vida é tão rara tão rara

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei a vida não para a vida não para não

Será que é tempo que lhe falta pra perceber

Será que temos esses tempo pra perder

E quem quer saber

A vida é tão rara

Tão rara

Tão rara

A vida é tão rara


Pelo ponto de vista desse texto, o Eu lírico da música, parece entrar em contato com o que passamos diante do mundo e reflete “o que se falta para perceber”, e qual o papel temos diante de tudo. Este pode ser um ótimo caminho para nos conhecermos, de sabermos quem somos, e de como podemos nos relacionar conosco e com o mundo (o ego, como mediador da nossa totalidade psíquica e da realidade a qual estamos inseridos)


Precisamos nos conscientizarmos cada vez mais. Como já dito no post anterior, sobre depressão (link ), “o Brasil possui a estimativa de 9,3% da população, ou seja, mais de 19.000.000 (dezenove milhões) de pessoas com problemas relacionados aos transtornos de ansiedade. (projeções do ano de 2017, com população do Brasil em torno de 209.000.000 (duzentos e nove milhões de habitantes).” Equivale a dizer que uma em cada dez pessoas possuem algum transtorno relacionado a ansiedade. Transtorno esse que pode inviabilizar a execução de atividades cotidianas dessa pessoa, trazendo muito sofrimento a quem esteja passando por isso.


Por isso, não hesite em contar com a ajuda de um profissional da saúde mental. Antes, ao invés de ser um sinal de fraqueza como dita o preconceito, é uma atitude de muita coragem e amor próprio para consigo. Conte com um psicólogo para se conhecer mais e lidar com as questões que lhe desafiam.

Se possível, compartilhe esse texto para que chegue a mais pessoas, para que possa despertar algo de bom para os outros também!


Grande abraço!


Marcelo Garcia de Souza - 31.05.19



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